Desmistificando o LEED
O LEED (Leadership in Energy & Environmental Design), segundo Botana, foi criado por um conselho aberto e voluntário de nível mundial, o U.S. Green Building Council (USGBC), que congrega lideranças de vários setores da indústria da construção, hoje em torno de 8.500 profissionais. Trata-se de um processo de troca de conhecimento, sempre em desenvolvimento e aperfeiçoamento, alimentando o mercado de idéias e informações que tem por finalidade proporcionar a evolução da indústria da construção civil com obras sustentáveis, deixando para trás a maneira convencional e, em sua maioria, poluente e despreocupada com o meio-ambiente.
Apesar de não ser o primeiro a ser criada, o LEED é atualmente o mais difundido dos sistemas de certificação existentes no mundo. Ele se traduz em esforço para o desenvolvimento de um padrão que proporcione melhor desempenho ambiental e econômico dos edifícios baseando-se em princípios, práticas, materiais e padrões industriais.
O LEED Green Building Rating System (Sistema de Avaliação de Edifícios Verdes) é voluntário, direcionado ao mercado de trabalho da construção e é baseado em tecnologia atuais já testadas. É avaliado a performance do ambiente de todo o edifício, considerando seu ciclo de vida, definindo um padrão para o que chamamos de um “edifício verde”.
O sistema de avaliação está organizado em seis categorias:
1. Locais Sustentáveis;
2. Eficiência no Uso da Água;
3. Energia e Atmosfera;
4. Materiais e Recursos;
5. Qualidade do Ar Interno;
6. Inovação em Projeto.
Esse sistema de certificação ambiental mede e avalia edifícios comerciais, institucionais e residenciais novos ou existentes. É baseado em princípios ambientais e energéticos já aceitos e mantém o equilíbrio entre práticas já conhecidas e novos conceitos criados. Ganha-se créditos quando os critérios são atingidos obedecendo a algumas atitudes em projeto, construção e operação/manutenção relacionados ao impacto ambiental. Assim, diferentes níveis de edifícios verdes são certificados baseados no total de créditos ganhos.
Os créditos obtidos na fase de projeto são aqueles baseados na documentação da fase de projeto. O USGBC (U.S. Green Building) responderá dizendo quais créditos foram aceitos, porém, nesta etapa, ainda não terá certificação, mas, somente, quando do cumprimento dos itens mostrados em projeto forem executados na obra, sendo que devem ser enviadas documentações que comprovem que o executado em obra obedeceu o projetado. É importante ressaltar que a equipe tem direito a enviar uma vez a documentação durante a fase de projeto.
Após a conclusão da obra, deverão ser enviados ao USGBC a lista dos créditos que pretendem ser atingidos (conforme projeto), alterações e revisões de projeto e documentos adicionais de projeto, se necessário.
Para receber a certificação, o projeto deverá satisfazer todos os pré-requisitos em um número mínimo de pontos, sendo que todos os projetos deverão atender o LEED-NC em vigor quando do registro.
O sistema de certificação foi primeiramente projetado para novos edifícios comerciais de escritórios, mas foi aplicado em muitas outras tipologias de edificações pelos adeptos do LEED. Todos os edifícios comerciais são aceitos pela certificação LEED-NC, como escolas, bibliotecas, hotéis e edifícios residenciais de quatro ou mais unidades, museus, etc, enquanto o LEED-EB se destina para operação e manutenção de edifícios. No caso de uma reforma significativa (muitas alterações no interior e modificação significativa na fachada) de uma edificação, usar o LEED-NC e, se não envolver grandes alterações, focando na operação e manutenção, o LEED-EB é mais apropriado.
Alguns projetos podem ser aplicados a um ou mais sistemas de avaliação do LEED. Cabe à equipe de projeto escolher o que melhor se enquadra para cada caso específico.
A certificação é de acordo com a seguinte escala:
1. Certificação - de 26 a 32 pontos;
2. Prata - de 33 a 38 pontos;
3. Ourto - de 39 a 51 pontos;
4. Platina - de 52 a 69 pontos.
O USGBC reconhecerá edifícios que atingirem um destes níveis de certificação com uma carta formal da certificação e uma placa, exemplificada na figura ao lado.
LEED – A versão brasileira
O LEED está presente em 41 países, distribuídos em todos os continentes, porém na maioria deles o parâmetro empregado para a obtenção do selo é o padrão norte-americano de sustentabilidade. Para disseminar essa certificação no mercado brasileiro e adaptá-la à realidade do país, a organização não governamental GBC Brasil, formou um comitê de 70 especialistas em construção civil divididos em grupos técnicos que discutem a realidade do setor no país.
Contudo, poucas informações foram ainda divulgadas sobre a versão LEED adaptada à realidade brasileira. Sabe-se que ela terá um total aproximado de 100 créditos e que está com estimativa de lançamento para este ano de 2009.
Segue algumas normas em desenvolvimento:
- Espaço Sustentável - intenção de que as construções considerem a acessibilidade interna e a externa e promovam a facilidade de deslocamento de pessoas com deficiência;
- Impacto ambiental - propõe redução no impacto ambiental decorrente da construção de uma obra, levando-se em consideração fatores como a poluição sonora e o trânsito;
- Materiais regionais - criado como incentivo para que os materiais de construção sejam adquiridos a uma distância máxima de 800 quilômetros da obra;
- Materiais para desmonte - a proposta é aproveitar o ciclo de vida dos materiais, e fortalecer o mercado de reuso. Empreendimentos comerciais mudam constantemente seu espaço, deslocando divisórias de lugar, ampliando ou reduzindo salas. Peças e recursos adaptados ao desmonte ampliam o ciclo de vida dos materiais;
- Uso racional de água - quando a medição é individualizada, cada proprietário recebe a conta de água proporcional ao que utilizou. Assim sendo, a individualização é uma tendência e provoca a redução no consumo de água;
- Energia - este item leva em conta uma constatação: segundo Marcos Casado, coordenador do Comitê LEED e gerente técnico do GBC nacional, o Brasil é um dos poucos países em que o chuveiro é elétrico. A meta é a substituição pelo aquecimento solar;
- Redução do desperdício - Marcos Casado cita um estudo da Universidade Federal Fluminense que aponta que o desperdício na construção civil brasileira custa entre 11 e 15% do valor total da obra.
Certificação AQUA
O sistema de certificação AQUA (Alta Qualidade Ambiental) é o primeiro adequado à realidade do Brasil, adaptado do francês HQE (Haute Qualite Environnementale). Lançado pela Fundação Carlos Alberto Vanzolini, que é a entidade certificadora, é baseado em normas européias e trata-se de uma parceria entre o Departamento de Engenharia da Produção da Universidade de São Paulo, o Centre Scientifique ET Technique Du Bâtiment (CSTB), instituto francês pesquisador na área de construção civil e a entidade.
O AQUA, lançado em abril de 2008, o processo de avaliação e certificação ocorre em três fases: programa, concepção e realização e todas passam por auditoria da fundação e recebem certificado específico. O empreendedor poderá programar a qualidade ambiental para o determinado edifício e estabelecer o sistema de gestão. Na concepção, o projeto deve atingir os requisitos mínimos, definindo-se com detalhes como o perfil planejado será atingido e, quando da conclusão da obra, é realizada a última averiguação e certificação, sendo essa a etapa da realização, onde será indicado se o prédio foi edificado conforme o projetado.
São, então, dois elementos que estruturam a certificação AQUA:
SGE: O referencial do Sistema de Gestão do Empreendimento (SGE), para avaliar o sistema de gestão ambiental implementado pelo empreendedor;
QAE: O referencial da Qualidade Ambiental do Edifício (QAE), para avaliar o desempenho arquitetônico e técnico da construção.
A implementação do SGE permite definir a QAE visada para o edifício e organizar o empreendimento para atingi-la, permitindo, ainda, controlar o conjunto dos processos operacionais relacionados às fases do programa, concepção e realização da construção.
O AQUA é o primeiro selo que levou em conta as especificidades do Brasil para elaborar seus 14 critérios - que avaliam a gestão ambiental das obras e as especificidades técnicas e arquitetônicas. São eles:
Eco-construção
- relação do edifício com o seu entorno
- escolha integrada de produtos, sistemas e processos construtivos e
- canteiro de obras com baixo impacto ambiental.
Gestão
- da energia
- da água
- dos resíduos de uso e operação do edifício e
- manutenção: permanência do desempenho ambiental.
Conforto
- higrotérmico
- acústico
- visual e
- olfativo.
Saúde
- qualidade sanitária dos ambientes;
- do ar e
- da água.
O SGE se estrutura em quatro segmentos que são: o comprometimento do empreendedor, onde são descritos os elementos do perfil ambiental e as exigências para formalizar o comprometimento; a implementação e funcionamento, onde são descritas as exigências em termos de organização; a gestão do empreendimento, onde constam as exigências em termos de monitoramento e análises críticas dos processos, da avaliação do QAE e de correções e de ações corretivas e, por fim, aprendizagem onde descreve-se as exigências em termos de aprendizagem da experiência e de balanço do empreendimento.
Em suma, conforme a norma, o SGE permite “organizar corretamente o trabalho dos diferentes agentes para que trabalhem conjuntamente, tomar boas decisões no momento correto e evoluir, melhorando regularmente a eficácia do sistema”.
Para o perfil de QAE, como já mencionado, é expressa em quatorze categorias que representam desafios ambientais, que, por sua vez, são subdivididas em subcategorias que tem por finalidade representar as principais preocupações associadas a cada desafio ambiental.
O desempenho é expresso em:
Bom: corresponde ao desempenho mínimo aceitável para um empreendimento de alta qualidade ambiental
Superior: relacionado ao das boas práticas
Excelente: são constatados os desempenhos máximos em empreendimentos de alta qualidade ambiental, se assegurando que esses possam ser atingíveis.
